Por Arthur Caires

Da esquerda para direita, Taylor Swift, Adele, Beyoncé, Bad Bunny e Harry Styles – Fotos: Reprodução

A 65° edição do Grammy irá acontecer no dia 05 de fevereiro de 2023, em Los Angeles, Califórnia. A premiação conta com 91 categorias, sendo as principais: Álbum do Ano, Canção do Ano, Gravação do Ano e Artista Revelação. Dentre os indicados, a cantora Beyoncé lidera com nove indicações, seguida de Kendrick Lamar com oito e Adele, Harry Styles e Brandi Carlile empatados com sete.

Além de ser a mais indicada da noite, Beyoncé quebrou o recorde de artista com maior número de indicações na história do Grammy, somando 88 vezes. Na categoria Artista Revelação, Anitta é uma das indicadas disputando com nomes como Omar Apollo, Måneskin e outros. O evento terá Trevor Noah como apresentador pelo segundo ano seguido e homenageará a banda Nirvana com um prêmio honorário.

Trevor Noah volta como apresentador da cerimônia – Foto: Reprodução

A premiação do Grammy teve sua primeira edição em 1959, e é uma forma de “honrar a realização artística, proficiência técnica e excelência geral na indústria fonográfica, sem considerar vendas ou posição nas paradas”, de acordo com a própria Academia.

Isabela Frasinelli, jornalista do Portal iG, acompanha desde adolescente e não perde uma edição: “Sempre fui uma pessoa muito entusiasmada com premiações, da música ao cinema. No caso do Grammy, passei a acompanhar com mais intensidade por conta do trabalho como jornalista. Desde 2019, quando comecei a atuar na área do entretenimento, a premiação é algo recorrente nas redações”.

Porém, mesmo com tamanho prestígio, a premiação não é algo que agrada a todos. Rafael Teixeira – jornalista e repórter do site Tenho Mais Discos Que Amigos! – é uma dessas pessoas. “Sou grande entusiasta da temporada de premiações, mas curiosamente, mesmo sendo jornalista musical, o Grammy sempre foi a que menos me interessou. Talvez por considerar que a música é a mais universal das artes, acho incrivelmente limitado que a Academia escolha celebrar apenas artistas dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, na imensa maioria das vezes”.

“Ainda assim, o Grammy é um termômetro importante da popularidade de um artista, já que costuma reconhecer quem está em alta no mundo pop, com boa relação com os fãs, imprensa, agentes e o showbiz no geral”, conclui. 

Troféu do Grammy – Foto: Reprodução

Sem performances confirmadas ainda, o Grammy 2023 já se tornou histórico por ser a edição com maior número de categorias até o momento e ser a primeira vez que um álbum inteiramente em espanhol ficou entre os indicados da categoria de Álbum do Ano, sendo este Un Verano Sin Ti, de Bad Bunny, o álbum mais reproduzido de 2022, no Spotify.

ÁLBUM DO ANO

O prêmio de Álbum do Ano vai para o artista, o produtor e toda a equipe por trás do trabalho e enaltece o valor artístico da obra como um todo. Neste ano, os indicados são:

  • Voyage – ABBA 
  • 30 – Adele 
  • Un Verano Sin Ti – Bad Bunny 
  • Renaissance – Beyoncé 
  • Good Morning Gorgeous (Deluxe) – Mary J. Blige 
  • In These Silent Days – Brandi Carlile 
  • Music Of The Spheres – Coldplay 
  • Mr. Morale & The Big Steppers – Kendrick Lamar 
  • Special – Lizzo 
  • Harry’s House – Harry Styles

Segundo Frasinelli, “os indicados deste ano seguem um estilo do Grammy, juntando artistas com trabalhos elogiados pela crítica, como In These Silent Days, que recebe a nota 87 no Metacritic, com homenagens a nomes consagrados, como o retorno do ABBA com Voyage, e nomes populares nas paradas, de Harry Styles a Bad Bunny”.

Na 59° edição da premiação, em 2017, ocorreu um embate parecido com o deste ano. Beyoncé e Adele também disputavam em Álbum do Ano, com Lemonade e 25, respectivamente. A britânica levou a da vez e em seu discurso de agradecimento expressou o quanto queria que o trabalho de Beyoncé tivesse ganho.

“Eu não posso receber esse prêmio. Eu estou muito agradecida e orgulhosa, mas a artista da minha vida é Beyoncé e o CD Lemonade é monumental e tão bem pensado, que nós conseguimos ver outro lado de você, um lado que você nem sempre nos deixa ver! Nós te amamos e você é nossa luz! O jeito que você fez meus amigos negros se sentirem é empoderador”, uma parte do discurso de Adele no Grammy em 2017.

Frasinelli diz que, mesmo com sua expectativa, o resultado pode ser inesperado: “Apesar de não desejar que essa conclusão se repita, já que acredito que o Renaissance merece a vitória, existem grandes chances de 30 levar o prêmio, levando em conta o histórico da Academia. No entanto, posso estar errada e me surpreender com o disco vencedor, assim como me surpreendi com o resultado desta mesma categoria no ano passado”.

Da esquerda para direita, 30 de Adele e Renaissance de Beyoncé – Fotos: Reprodução

No entanto, para Caio Coletti, jornalista do site Omelete, o resultado deve ignorar o sucesso comercial: “É interessante porque o Grammy tantas vezes indica álbuns bem-sucedidos da música pop, mas acaba dando a vitória a títulos ‘menores’, que fogem desse mainstream global. Daí as vitórias de Beck e Kacey Musgraves, por exemplo. Nessa veia, não duvido de uma vitória da Brandi Carlile ou do ABBA – e ambas me fariam muito felizes, porque seriam merecidas”.

Rafael Teixeira comenta que o trabalho de Bad Bunny, Un Verano Sin Ti, “tem todos os méritos para chegar onde chegou. Foi o álbum mais ouvido no mundo nas plataformas digitais em 2022, e levou os ritmos tradicionais de Porto Rico e dos países vizinhos para todo o planeta. Eu gostaria de ver Bad Bunny recebendo mais de um Grammy em 2023, mas duvido disso, pois infelizmente há uma premiação segregada para a América Latina”.

Bad Bunny e seu álbum Un Verano Sin Ti – Foto: Reprodução

GRAVAÇÃO DO ANO

Gravação do Ano, assim como Álbum do Ano, quem recebe o prêmio é o intérprete da música, o produtor e a equipe da parte técnica. As músicas indicadas nesta categoria são reconhecidas pela qualidade de sua gravação, mas comumente são associadas ao seu sucesso comercial. Os indicados são:

  • Don’t Shut Me Down – ABBA 
  • Easy On Me – Adele 
  • Break My Soul – Beyoncé 
  • Good Morning Gorgeous – Mary J. Blige 
  • You and Me on the Rock – Brandi Carlile Featuring Lucius 
  • Woman – Doja Cat 
  • Bad Habit – Steve Lacy 
  • The Heart Part 5 – Kendrick Lamar 
  • About Damn Time – Lizzo 
  • As It Was – Harry Styles 

Entre as especulações há muitos palpites, mas o chute definitivo acaba sendo As It Was de Harry Styles. “De longe, a música mais tocada e mais culturalmente importante de 2022 no mercado anglófono. Eu também consigo ver Break My Soul ganhando, por se tratar de um prêmio voltado para a produção, e principalmente se o Grammy decidir que este é o ano da Beyoncé”, diz Coletti.

Para Rafael, a suposição é a mesma: “A qualidade de produção de Beyoncé, Doja Cat, Steve Lacy e Kendrick Lamar podem ser reconhecidas com um gramofone. Mas há grandes chances de que Harry Styles faça a dobradinha”.

Harry’s House de Harry Styles – Foto: Reprodução

CANÇÃO DO ANO 

A categoria de Canção do Ano destaca a composição lírica da música indicada e o gramofone de ouro fica com apenas os compositores. Os indicados deste ano são: 

  • abcdefu – Sara Davis, Gayle & Dave Pittenger (Gayle) 
  • About Damn Time – Melissa “Lizzo” Jefferson, Eric Frederic, Blake Slatkin & Theron Makiel Thomas (Lizzo) 
  • All Too Well (10 Minute Version) (The Short Film) – Liz Rose & Taylor Swift (Taylor Swift) 
  • As It Was – Tyler Johnson, Kid Harpoon & Harry Styles, songwriters (Harry Styles) 
  • Bad Habit – Matthew Castellanos, Brittany Fousheé, Diana Gordon, John Carroll Kirby & Steve Lacy, (Steve Lacy) 
  • Break My Soul – Beyoncé, S. Carter, Terius “The-Dream” Gesteelde-Diamant & Christopher A. Stewart (Beyoncé) 
  • Easy On Me – Adele Adkins & Greg Kurstin (Adele)
  • God Did – Tarik Azzouz, E. Blackmon, Khaled Khaled, F. LeBlanc, Shawn Carter, John Stephens, Dwayne Carter, William Roberts & Nicholas Warwar (DJ Khaled Featuring Rick Ross, Lil Wayne, Jay-Z, John Legend & Fridayy)
  • The Heart Part 5 – Jake Kosich, Johnny Kosich, Kendrick Lamar & Matt Schaeffer (Kendrick Lamar)
  • Just Like That Bonnie Raitt (Bonnie Raitt)

A música “queridinha” aqui é outra, já que a composição é o fator determinante. Frasinelli, fã de carteirinha de Taylor Swift, nem esconde sua excitação sobre a música: “Além do lado de fã que eu já expus, reconheço que All Too Well (10 Minute Version) se destaca entre outras faixas. Os dez minutos de entrega pessoal de Taylor na música foram como um presente da cantora para os fãs, e a duração maior não impediu que a música alcançasse o topo da Billboard Hot 100”.

Taylor Swift tem grandes chances com All Too Well (10 Minute Version) – Foto: Reprodução

Mesmo assim, Rafael acredita que Harry Styles pode levar mais de um prêmio para a mesma música: “Essa eu acho difícil tirar de Harry Styles com As It Was, música atemporal, dançante, fácil de se relacionar e difícil de enjoar. abcdefu e About Damn Time também tiveram forte penetração em todos os países e plataformas graças ao apelo das redes sociais, mas sem a qualidade de Styles. Também não me surpreenderia se Adele roubasse o prêmio com Easy On Me”.

ARTISTA REVELAÇÃO

O site oficial da Academia explica que um artista será considerado para essa categoria caso seus lançamentos impactem notavelmente o cenário musical naquele ano. Em resumo, é um prêmio para artistas novos que tiveram um grande destaque. Entre os indicados temos:

  • Anitta 
  • Omar Apollo 
  • DOMi & JD Beck 
  • Muni Long 
  • Samara Joy 
  • Latto 
  • Måneskin 
  • Tobe Nwigwe 
  • Molly Tuttle 
  • Wet Leg 

Nas últimas edições, havia-se uma clara noção de quem seriam os vencedores desta categoria. Olivia Rodrigo, Megan Thee Stallion e Billie Eilish tiveram imensa aclamação em seus respectivos anos.

Da esquerda para direita, Billie Eilish, Megan Thee Stallion e Olivia Rodrigo – Fotos: Reprodução

Desta vez não há um consentimento certo sobre quem será o ganhador mas, para Rafael, Anitta pode e merece ganhar o prêmio: “Måneskin e Omar Apollo saem na frente nessa corrida, e Anitta tem chances, assim como Latto e Wet Leg. De qualquer forma, a brasileira fez um ano histórico só por estar entre as indicadas de uma das quatro principais categorias do Grammy, além de ter vencido o Video Music Awards da MTV e sido destaque no Grammy Latino”.

Coletti aprecia a indicação da brasileira, mas critica a organização: “É bacana ver a indicação da Anitta, mesmo ela não sendo a minha artista brasileira preferida, pela questão da representatividade. Por outro lado, a categoria de revelação é talvez a que mais salienta a miopia americana do Grammy – revelação para quem? Tanto a Anitta quanto o Omar Apollo têm anos de relevância e sucesso nos países natais deles, então o ponto de vista estadunidense da premiação fica claro, e a graça se perde”. 

Anitta conquista a indicação de Artista Revelação – Foto: Reprodução

ESNOBADOS

Mesmo com uma diversidade de categorias, algumas chegando a dez indicações cada, a Academia acaba por deixar de fora alguns nomes de destaque. Umas das polêmicas mais recentes foi a não indicação de The Weeknd no Grammy de 2021, com seu álbum After Hours e a música mais vendida daquele ano, Blinding Lights. A repercussão foi tanta que a premiação foi acusada de racismo, novamente, e o cantor se recusou a submeter qualquer trabalho para a instituição no futuro.

The Weeknd decide boicotar premiação após ocorrido de 2021 – Foto: Reprodução

Este ano não foi diferente. “Existem dezenas, centenas de álbuns brilhantes que ficam de fora todos os anos da seleção do Grammy. A premiação representa um olhar muito particular – estadunidense, elitista, com preconceitos de gênero musical etc. – para o mundo da música. No pop, é difícil fugir dos trabalhos brilhantes feitos por artistas sul-coreanos como a Taeyeon e o Onew, mas mesmo no ocidente tivemos álbuns fortes da Rina Sawayama, da Julieta Venegas e do The Weeknd”, comenta Coletti.

Para Frasinelli, alguns artistas pop acabam não sendo levados a sério com seus trabalhos: “Após Plastic Hearts, de Miley Cyrus, ser esquecido no Grammy anterior, a premiação voltou a esnobar discos de rock lançados por artistas pop. Holy Fvck, de Demi Lovato, merecia pelo menos alguma indicação pelo impacto do projeto na carreira da artista, desde a aclamação dos fãs até as performances impactantes na turnê, como no Rock in Rio”.

Da esquerda para direita, Miley Cyrus e Demi Lovato – Fotos: Reprodução

POLÊMICAS

Com tantas controvérsias, a relevância e a popularidade do Grammy diminuíram. Na edição de 2021, houve uma audiência de 8,8 milhões de pessoas, a pior da história da premiação. Comparado ao ano de 2020, com 18,8 milhões de internautas, teve-se uma queda de 53%. 

“Todas as grandes premiações estadunidenses estão sofrendo com a queda de audiência de suas transmissões da TV – que são, sejamos sinceros, o único motivo para esses prêmios existirem em um sentido mercadológico”, diz Coletti, que complementa que o streaming é a saída mais provável para a Academia. 

Comentando sobre as polêmicas, Frasinelli destaca as problemáticas da premiação: “Desde que eu levei o lado mais profissional para a cobertura do prêmio, percebo que nem tudo são flores. O Grammy tem um histórico racista e elitista que não pode ser ignorado e deve ser criticado pelos espectadores – mesmo com a Academia não promovendo tantas mudanças com o objetivo de gerar mais inclusão”.

Para Rafael, além do racismo e do elitismo, os escândalos de corrupção e assédio sexual, expostos pela ex-presidente da Academia no começo de 2020, foram o que degradaram a imagem do evento. “Isso se somou à histórica falta de transparência e representatividade da premiação, o que forçou a Academia a aumentar o número de membros votantes, com mais diversidade étnica, sexual e social, e revelar a identidade deles. Mesmo assim, em 2023, grandes artistas seguem boicotando a premiação, como The Weeknd, Drake, Nicki Minaj e Bruno Mars. Não por acaso, todos negros”.

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