Fora do ideal de “corpo perfeito”, criadoras de conteúdo inspiram pessoas na internet

Por Maria Gabriela Oliveira

Com a chegada da tecnologia, as redes sociais se tornaram parte do nosso cotidiano. Influencers digitais, como são conhecidas as pessoas que criam conteúdo para a internet, precisam de muita cautela e responsabilidade quando exercem tal função. Além de influenciarem, como o próprio nome diz, eles devem representar as pessoas, fazer com que seu público se identifique com eles. Uma das maneiras de proporcionar essa representatividade é mostrar a realidade, a vida real, o corpo real, fugindo dos padrões estéticos que encontramos nas redes.

Elaine Quinderé, criadora de conteúdo digital, consultora de estilo e especialista em pessoas gordas e corpos plurais, se inspirou em suas clientes e na forma como se identifica com elas para produzir seus conteúdos na internet. “Não foi uma coisa planejada. Eu vi a necessidade de fazer isso pelas minhas clientes e por mim também, acabou acontecendo”, diz ela. “Quando trabalhamos a autoestima de cada indivíduo, é uma revolução que fazemos, porque é mais uma pessoa que está acordada e ciente desses problemas. É mais uma pessoa para tentar mudar alguma coisa no mundo”, acrescenta.

Em pesquisa realizada pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e a Sociedade Brasileira de Metabologia e Endocrinologia (SBEM), em fevereiro de 2022, foi constatado que 85,3% dos brasileiros entrevistados, já sofreram gordofobia. A pesquisa foi realizada com 3.621 pessoas entre 18 e 82 anos.

Elaine também é uma vítima desses ataques e conta um pouco sobre sua experiência. Ela explica que desde que começou a falar sobre autoestima, “movimento de gordofobia, sobre ser uma pessoa gorda e falar sobre estilos de pessoas gordas, mensagens de ódio são comuns na minha DM e nos comentários”. A consultora de estilo também diz que no início se sentia muito afetada com os ataques, mas que hoje em dia, aprendeu a lidar. “A pessoa que faz esses comentários ainda não entendeu nada e é tão vítima quanto eu”, afirma.

Imagem via Elaine Quinderé

Thamiris Rezende também é criadora de conteúdo e assim como Elaine iniciou seu trabalho na internet de forma natural e não planejada. “Eu estava cansada de só ver inspiração de moda para pessoas não gordas e comecei a compartilhar meus looks. À partir desse momento conheci criadoras de conteúdo que estavam há muito mais tempo na internet fazendo o mesmo e minha relação com o meu próprio corpo mudou”, diz Thamiris.

Ela também conta que já foi vítima de gordofobia diversas vezes e, segundo ela, os ataques são sempre disfarçados de preocupação com a sua saúde. Mesmo assim, ela afirma não se sentir intimidada: “eu nunca tive medo de criar conteúdo na internet, pois entendo que a importância dos assuntos que eu abordo no meu instagram são muito maiores do que qualquer ataque pessoal que eu possa sofrer”.

A influenciadora também nos conta que os primeiros relatos que recebeu sobre os benefícios do seu trabalho, foram de suas próprias amigas e que depois passou a receber mensagens de seguidoras. “Foi muito importante perceber que eu estava impactando de forma positiva no meu próprio ciclo social. Depois de um tempo passei a receber também relatos de seguidoras que se sentiram à vontade para se abrir comigo sobre gordofobias cotidianas que sofriam”, diz ela.

Thamiris ressalta que a gordofobia não é sobre autoestima, e sim sobre violação de direitos. “Nosso papel como criadores de conteúdo com alcance é também pressionar o poder público e movimentar a sociedade para que coisas como essas não aconteçam”, finaliza.

Imagem via Thamiris Rezende

Segundo a psicóloga Vanessa Matiussi, uma vítima de preconceitos pode ser afetada de diversas maneiras, no caso da gordofobia não seria diferente. “A vítima pode ter problemas psicológicos, como transtornos alimentares, transtornos depressivos e transtornos de fobia social, que como consequência, geram danos na vida do indivíduo”, afirma.

A psicóloga também recomenda tratamentos com profissionais da área da saúde e se possível, com uma equipe multidisciplinar, ou seja, um psicólogo, nutricionista, educador físico e, caso seja necessário, um psiquiatra.

Para ela, a melhor maneira de reduzir os índices de gordofobia no nosso país, é falar sobre o assunto em todos os espaços que ocupamos. “É importante entender a gordofobia enquanto preconceito e violência, deixando de lado os achismos e crenças limitantes. É fundamental mudar o olhar e se permitir pensar sobre o assunto, dando a urgência necessária para a violência que pessoas gordas sofrem todos os dias. Só assim estaremos próximos de uma sociedade mais inclusiva e acessível”, conclui.

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