POR RODRIGO FERRACUTI LOBATO

A Copa do Mundo no Catar acabou. Um evento que foi marcado por muita apreensão e polêmicas, muito por ter sido sediado pela primeira vez em um país do Oriente Médio, região com cultura muito diferente dos outros países que já receberam o campeonato, gerando a dúvida do mundo de como seria esse Mundial num contexto geral. Tais polêmicas envolvendo o Catar começaram desde a sua escolha para sediar a Copa do Mundo de 2022, visto que foi comprovado o pagamento de 880 milhões de euros do governo catari à FIFA, a fim de comprar votos a favor de sua candidatura, além do comprovado trabalho escravo nas construções dos estádios para o campeonato.
Esse foi apenas um dos argumentos para muitos daqueles que defendiam a fala de que foi um”erro” da entidade máxima do futebol em escolher o Catar para sediar o principal torneio de futebol do mundo, sendo o principal deles por ser um país contra o progressismo no que se refere aos direitos civis, em especial de mulheres e comunidade LGBTQIA+. Por outro lado, se forem levados em consideração esses aspectos humanos como desqualificadores para se sediar uma Copa, a Rússia em 2018 poderia ter sido bem questionada, dado por ser um país também com um regime autoritário. Além da Itália em 1934 e Argentina em 1978, já que ambas estavam sob uma ditadura. Através desta análise, fica claro que a FIFA não se importa com razões sociais para a escolha de países-sede.
De acordo com o professor de História Iury Angelotto Pires, “a escolha do Qatar (e da Rússia), além da compra de votos, me parece estar associada a interesses e necessidades principalmente das nações europeias, pois a Europa depende muito do gás e do petróleo que vem da Rússia ou do Oriente Médio”. Ou seja, a escolha do país-sede envolve muitos outros interesses por trás do futebol, e um deles é inserir cada vez mais o Qatar no mapa das relações internacionais, e a Copa do Mundo é a campanha publicitária perfeita do país para o mundo.
E essa publicidade foi muito bem feita. Durante um mês, o mundo todo pôde conhecer um pouco mais do Catar e suas especificidades. Como a Copa do Mundo é um evento global, percebeu-se certas flexibilizações em alguns costumes antes considerados imutáveis, levando ao questionamento de que a Copa do Mundo poderia ser o começo de uma mudança de comportamento extremamente conservador de países árabes.
Segundo Iury “se a Copa vai colaborar com mudanças para tornar o Qatar um país menos conservador e autoritário, eu creio que é possível, mas não será tão rápido. Valores, sobretudo aqueles fundados em concepções religiosas, são difíceis de mudar. Se houver mudanças, o processo será demorado, como costuma acontecer.” Essa mudança seria um legado impressionante deixado pela Copa no Qatar.
Com um ponto de vista diferente sobre o assunto, o jornalista esportivo da Rede Globo Dário Faria diz que “o legado da Copa é algo interno para a população do país. A imagem pro mundo é construída na Copa, se o turista é bem tratado, se as coisas estão organizadas, tudo certo na visão mundial. E todos os países montam esquemas especiais para o evento. É como se a vida parasse por lá e só existisse o evento. Depois, quando a vida volta ao normal é que se percebe o que ficou e quem percebe isso é a população local e não o estrangeiro.” Ou seja, dessa fala pode ser tirado que o público pôde aproveitar a Copa normalmente como qualquer outra edição do torneio mundial, e o legado será algo pertinente exclusivamente para a população local, como por exemplo o proveito do uso do metrô, que foi inaugurado para a realização do campeonato de seleções.
Esses são dois pontos de vista diferentes, mas é fato: a Copa foi um sucesso! Recordes de audiências que foram batidos em diversas emissoras no mundo inteiro, graças ao mundial no Catar, exemplificam isso. O sucesso foi tanto, que o país vizinho Arábia Saudita já está interessado em sediar o evento em Com isso, fica claro que o legado da Copa do Mundo no Catar é algo puramente subjetivo, porém também é nítido que esse é apenas o início da inserção e tentativa futura de aos poucos monopolizar o cenário esportivo global pelos países do Oriente Médio, que influenciam em um maior poder geopolítico.
