JÚLIA HILSDORF
Messi levanta a taça da Copa do Mundo junto de seus companheiros de equipe
Não há palavra que descreva melhor a campanha argentina na Copa do Mundo de 2022 do que superação. Essa única palavra, contudo, vai além dos feitos realizados na competição nesta temporada. O triunfo se iniciou após uma campanha vexatória em 2018, que com um vestiário bagunçado e sem a figura de um líder, quase resultou na aposentadoria daquele que viria a ser o nome da atual conquista: Lionel Messi.
Após uma reestruturação promovida pelo treinador Lionel Scaloni, a equipe já era cotada como uma das favoritas ao título de campeã. Na estreia, esperava-se muito para contemplar o que Messi havia ido até o Catar fazer em seu “last dance” das copas. O primeiro tempo, de muita pressão, demonstrou aquilo que mais se especulava: Messi almejava colocar em sua coleção o último troféu que faltava. Mas um pequeno descuido foi suficiente para jogar um balde de água fria nos argentinos: em cinco minutos tomaram a virada da Arábia Saudita e encerraram sua primeira partida com uma amarga derrota.
Para o jogo seguinte só a vitória interessava Scaloni e seus jogadores. Ao final do primeiro tempo, a forte defesa mexicana impediu que o marcador saísse do zero a zero. Aquilo começava a assombrar as esperanças argentinas. Mas quis o destino que a estrela daquele que já foi eleito sete vezes o melhor do mundo brilhasse, e com um gol e uma assistência, Lionel Messi voltou do vestiário pronto para dar uma cara nova ao ataque argentino junto de Enzo Fernández.
Nessa altura da competição, após uma suada vitória contra o México, vencer ainda era e sempre foi o único interesse dos sul americanos, mas pelo menos os argentinos já não mais dependiam de outros resultados para se classificarem para a fase seguinte. Com gols novamente apenas na segunda metade do jogo, dependendo de uma mudança de postura em campo durante o intervalo, a Seleção Argentina garantiu sua vaga nas oitavas de final em primeiro lugar no grupo, furando o bloqueio do habilidoso goleiro polonês Szczesny.
Ao fim da fase de grupos, a Argentina, mais uma vez, havia demonstrado frieza e superado o que se tornaria uma insignificante derrota. No mata-mata, o oponente da vez vinha diretamente da Oceania, e mesmo não apresentando os melhores resultados durante até então, não seriam facilmente parados.
Diferentemente das vitórias anteriores, os hermanos colocaram em prática sua evolução e saíram em vantagem logo no primeiro tempo, mantendo o ritmo para o segundo. Os australianos, por sua vez, não se deram por vencidos e buscaram o empate até o final. Dessa vez, a estrela que brilhou foi a do goleiro Emiliano Martínez que impediu o gol de empate.
Quando a ascensão parecia estar enfim acontecendo, outro apagão no final da partida contra os holandeses levou a decisão para as penalidades. Após um controlado dois a zero por parte dos hermanos até os trinta e oito do segundo tempo, a Laranja Mecânica empatou a partida em minutos, dando um tom dramático para um jogo praticamente ganho. Mas o herói Emiliano Martínez mais uma vez estava lá: defendeu duas cobranças seguidas e garantiu sua equipe na semifinal da competição.
Foram esses leves vacilos ao longo de sua campanha que já não colocavam mais a Argentina como uma das favoritas ao título. Nas semifinais, contudo, os argentinos vieram para mostrar tamanho equívoco daqueles que desacreditaram. A adversária era a equipe que ficou conhecida pelo estilo de jogo retranqueiro, que levava todas as partidas para a prorrogação ou penalidades.
Os croatas, tirados de sua zona de conforto por um gol relativamente cedo, foram forçados estrategicamente pelos argentinos a ir ao ataque, perdendo sua principal característica: poder defensivo. É com uma goleada por três a zero que a Seleção Argentina chega a outra final de Copa oito anos depois da derrota para a Alemanha.
A grande final colocaria frente a frente a experiência de Lionel Messi e o talento de Kylian Mbappé. Não demorou muito para Messi mostrar o porquê voltou atrás em sua aposentadoria da seleção. No comando do ataque argentino, levou o jogo para o segundo tempo com uma vantagem de dois gols. Tudo corria bem, o jovem Mbappé parecia sentir a pressão do jogo, os argentinos já podiam sentir a taça em suas mãos.
Foi no apagar das luzes, quando tudo já parecia perdido para os franceses, que brilhou a estrela de Mbappé. O menino que deixou de ser apenas um jogador promissor havia 4 anos, marcou dois gols em menos de dois minutos e forçou a prorrogação.
No tempo extra, mais um gol de seus craques para cada lado. A partida seria decidida nos pênaltis. As cobranças foram abertas pelos camisas 10 de cada seleção. Foi a partir daí que a experiência argentina se sobressaiu à juventude da seleção francesa. Os cobradores seguintes Paulo Dybala, Leandro Paredes e Gonzalo Montiel converteram para os hermanos, enquanto os jovens Coman e Tchouaméni erraram do lado francês. A Argentina se tornava campeã da Copa do Mundo pela terceira vez.
Vinte anos depois, a taça retornou ao continente sul americano. Mesmo com muitos discursos a respeito do avanço do futebol europeu em relação ao mundo, a Argentina entrou em campo para provar que mais uma vez eles estavam errados. E agora um dos maiores gênios da história do futebol, Lionel Messi, pode dizer que finalmente não lhe falta mais nenhum troféu em suas prateleiras.
