Por Arthur Caires

Da esquerda para direita, Jade Picon, Grazi Massafera e Gil do Vigor – Fotos: TV Globo/Reprodução

Desde suas primeiras edições, o Big Brother Brasil é uma porta de entrada para muitas pessoas que querem ter uma carreira de sucesso. Grazi Massafera (BBB5), Sabrina Sato (BBB3) e Gil do Vigor (BBB21) são alguns exemplos de celebridades formadas no reality.

Por ser um programa nacional, que passa na maior emissora do país, sua visibilidade é gigantesca, logo, quando os participantes saem do programa são conhecidos por milhares e possuem diversas novas oportunidades. Mas quão longe a fama pode levar uma pessoa?

Recentemente, uma polêmica envolvendo a influencer Jade Picon trouxe esse debate à tona. A ex-participante da 22ª edição do BBB foi escalada como parte do elenco da nova novela das 21h da Globo, Travessia, escrita por Glória Perez, sem ter nenhum histórico na área da atuação. A maior crítica feita é a entrega à Jade de um papel de destaque em uma produção do horário nobre da emissora.

“Havia atrizes qualificadas e com gabarito suficiente para assumirem o papel, mas o veículo propagador do reality optou por uma celebridade. Claro que não temos controle sobre isso, mas creio ser completamente injusto com nós, artistas”, diz Matteo Lucca, ator e estudante de artes cênicas pela UNESP.

Jade Picon como Chiara na novela “Travessia” – Foto: TV Globo

Este assunto toma uma proporção ainda maior quando o trazemos para o plano geral do nosso país. Com o Ministério da Cultura fechado desde 1° de janeiro de 2019, pelo agora ex-presidente Jair Bolsonaro, e o impacto da pandemia, o setor cultural perdeu mais de 600 mil trabalhadores, segundo o IBGE.

“Então a gente vê tudo isso acontecer, pra ver uma menina que é famosa fazendo o trabalho que poderia ter sido feito por umas dessas pessoas, então primeiramente é um sentimento de muita tristeza e injustiça”, diz Gregory Olegario, ator, professor de artes cênicas e criador do grupo de teatro “Sparks”, em São Bernardo do Campo.

Não é de hoje que ex-BBBs se tornam atores, cantores, apresentadores etc. Mencionada anteriormente, Grazi Massafera é uma que após o confinamento se aventurou em novelas e programas de TV. “Admiro seu trabalho como atriz, e acredito ser a que mais tenha dado certo”, pontua Matteo. Mas após a edição de 2020, quando o reality começou a trazer influenciadores digitais e subcelebridades para o jogo, essa característica “máquina de carreiras” foi ainda mais impulsionada.

“Com o crescimento das carreiras digitais, creio que o programa pode tornar-se um modo de catapultar pequenos influenciadores em grandes celebridades, porém, a mistura dos conceitos ‘celebridade’ e ‘artista’ acabam sendo sobrepostas e confundidas, aí vejo um enorme ponto negativo”, afirma Matteo.

Para Gregory, o saldo da “máquina” do BBB é positivo: “eu acho muito legal isso porque dá oportunidade pra pessoas que tem um grande poder de fala e influência, pra poder se desenvolver nessa área que geralmente só quem tem acesso é quem já é muito famoso. A gente vê por exemplo a questão da Juliette que pra mim foi uma grande participante, uma mulher com muito poder, com muita voz e dado as ferramentas e as oportunidades ela conseguiu se desenvolver muito bem. Além de alavancar artistas que já possuem carreiras, como a Linn da Quebrada, que acabou furando a bolha dela e ganhando muito prestígio com isso”.

Da esquerda para direita, Linn da Quebrada e Juliette – Foto: TV Globo

Apesar do reality dar visibilidade para novos rostos na mídia, há também a possibilidade de difamar carreiras já consolidadas. O termo “cancelamento”, que significa boicotar algo ou alguém, é muito utilizado neste meio e tenta ser evitado ao máximo pelos participantes do programa.

Segundo Gregory, no entanto, isso pode ser muito relativo: “querendo ou não o cancelamento não serve pra nada, porque quando pensamos nesses grandes artistas não tem muito o que fazer, você não ir num show da Karol Conka, você dar um ‘block’ nela no Instagram, não vai acabar com a carreira dela. O cancelamento na maioria das vezes serve pra engrandecer o artista”.

Karol Conka, ex-participante do BBB 21, foi eliminada do programa com 99,17% dos votos. Ao sair do confinamento, ganhou um documentário no GloboPlay, “A Vida Depois do Tombo”, e teve um dos melhores números de sua carreira com a música “Dilúvio”.

Karol Conká após ser eliminada – Foto: TV Globo

Para Matteo, o cancelamento nada mais é do que uma estratégia de marketing: “vejo apenas como um grande mecanismo pautado e manipulado pelo veículo propagador, a TV Globo, para contribuir com a audiência do programa”. Ele ainda acrescenta que acha não valer a pena essa exposição: “por já terem conquistado seu espaço, e consolidado suas carreiras, pode ser desnecessário e contribuir negativamente para sua trajetória”.

Embora essa seja a discussão do momento, o Big Brother Brasil 2023 já está batendo na porta e com ele muitas mais novas estão chegando para serem debatidas. Com nomes como Vitão, Sofia Santino, Paula Fernandes, Cleo Pires, entre outros sendo cotados, o programa deve estrear no dia 16 de janeiro, seguindo com a apresentação de Tadeu Schmidt.

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