Por Daniel Souza

Representação moderna da obra “A criação de Adão” – Fonte: https://br.freepik.com
No começo de dezembro, houve a viralização de imagens produzidas por inteligências artificiais nas redes sociais, colocando em pauta o debate sobre artes feitas por computadores. Entre as IAs, se destacaram durante esse ano Midjourney, Dall-e 2 e o Lensa. No entanto, artistas e ilustradores se posicionaram contra o uso das ferramentas por oferecer risco às suas profissões.
Permitindo a criação de artes por meio de comandos que combinam formas, cores e diversas técnicas de composições, as IAs (inteligências artificiais), máquinas com a capacidade de reproduzir atividades humanas como aprendizagem, raciocínio e criatividade, se tornaram uma sensação entre aqueles que se interessam por arte. No entanto, surgiram algumas questões, como a ameaça que eles podem oferecer aos artistas humanos, de onde viriam os dados utilizados nas suas imagens, e se suas ilustrações poderiam ou não ser consideradas arte por utilizar elementos elaborados por outros artistas.
Em decorrência disso, surgiram vários movimentos em comunidades artísticas que atuaram na proteção dos profissionais autorais, banindo produções feitas com inteligências artificiais. Um exemplo disso foi a onda de protesto que ocorreu na ArtStation, um dos sites mais importantes de portfólios para artistas, em que seu público postou imagens com a representação da palavra IA com uma tarja de proibido.
Em entrevista, Matheus Ferri Silva, estudante de design, comentou que, em sua visão, as IAs vieram com a proposta de ajudar na criação de artes e servir como uma base para as produções, mas agora observa que o impacto delas é ruim. “Existem casos de gente vendendo imagens de inteligências artificiais como se fossem autorais ou até pegando artes autorais e vendendo como se fossem feitas por programas. Assim, o papel do artista está praticamente sendo ameaçado por um computador”.
Segundo o estudante, “por serem imagens que usam prompts e uma biblioteca enorme que a internet disponibiliza para formar novas produções a partir da pesquisa, não considero o produto arte por não ter a verdadeira pureza que uma pessoa teria ao produzir uma ilustração”.
Para Matheus, o motivo de utilizar o trabalho de um computador ao invés de um artista se dá não apenas pela questão do preço, como também pelo tempo necessário para se criar uma arte. Em comentário, o jovem diz não se tratar apenas das variáveis acima, mas também da desvalorização da arte e do artista, “com a perda do valor da arte e das suas interpretações, o retrato se torna apenas algo ‘bonito de se olhar’. Diminuindo o seu significado apenas a isso, qualquer coisa pode executar essa função”.
Isabella Vagnotti, estudante de Artes Visuais, conta que é divertido ficar vendo as coisas que as máquinas criam, já que sempre sai algo torto, mas não gosta da ideia de imagens feitas por IAs. “Arte é algo que necessita de um ser humano para criar, um computador é capaz de criar cores e formas em posições que podemos dizer ser ‘arte’, mas não passa de uma criação de um sistema tecnológico”. A artista complementa dizendo que “mesmo que a inteligência tenha sido criada por um ser humano, ele apenas programou o sistema para que criasse imagens. Não passa disso, imagens, não é arte, não tem humanidade naquilo”.
Questionada se os artistas poderiam ser desvalorizados, já que a produção dos computadores pode ser mais rápida e barata, Isabella concorda: “porque alguém compraria algo feito à mão, por um preço muito mais alto, com um prazo maior, se ele tem acesso a algo rápido e barato?”.
Em contrapartida, para Ian Rodrigues de Melo, estudante de Design, como ferramenta as inteligências artificiais são o futuro para ilustradores e designers. “Não acho nada demais porque, como vemos na história, já houve algumas tecnologias disruptivas com o que era habitual, que com o passar dos anos se tornaram algo à parte ou se incorporaram para aprimorar as formas que as coisas, na arte, são feitas”.
Ian complementa dizendo que classifica o produto das IAs como arte, mesmo que de uma forma sintética. “Geralmente são imagens que beiram a perfeição num primeiro olhar mas cheia de deformidades conforme se olha mais calmamente. Acho que seja arte sim, mas uma inacabada, que precisa de refinamento”.
