MATHEUS SANTOS
O clima árido e desértico do Catar, país situado na Península Arábica, onde as temperaturas podem alcançar os 50° C durante o dia, obrigou as partidas da Copa do Mundo, que tradicionalmente acontecem em junho e julho, a ocorrerem nos últimos dois meses do ano.
Essa foi a estratégia definida pela FIFA, organizadora do mundial, visto que em novembro e dezembro as temperaturas são mais amenas, não ultrapassando os 30º C no inverno catari.
Temperaturas muito elevadas, como a do país do Oriente Médio, implicam uma série de complicações na saúde dos jogadores e, consequentemente, no desempenho esportivo. A primeira delas é referente à adaptação.
Noites mal dormidas, dificuldade para respirar e sensação de calor são alguns dos problemas enfrentados pelos atletas nos primeiros dias de estadia no país do Hemisfério Norte, num processo denominado aclimatação. Além disso, o corpo humano necessita de um dia para se adaptar a cada hora de diferença de um fuso horário que ele não está habituado. A descompensação horária ou jet leg do Brasil para o Catar é de seis dias, ou seja, a seleção brasileira precisou de quase uma semana para se familiarizar ao horário do país sede do megaevento.
A temperatura quente do deserto é responsável por alterar o humor e o rendimento dos jogadores, pois a chance de desenvolver insolação, fadiga e cansaço é maior, explica Lilian Zarantonelli, bacharela em Educação Física pela UNICAMP e professora de ensino médio e técnico do Centro Paula Souza desde 2010.
Quando o corpo realiza exercícios físicos, como uma partida de futebol, a temperatura corporal aumenta devido à ativação muscular constante, e quanto mais intenso e mais duradouro for a atividade, maior será a temperatura dentro do corpo.
Esse aumento pode provocar queda de pressão, câimbra, tontura, exaustão e desmaio, ocasionar lesões e levar a óbito em alguns casos, acrescenta Lilian.
Para não ser prejudicado, o corpo humano dissipa o calor para fora por meio do suor, no entanto, em ambientes quentes, esse mecanismo é mais difícil, e a produção de sudorese em excesso desidrata o atleta.
Segundo Thales Gomes, doutor em Ciências Biológicas com especialização na termorregulação do corpo da Universidade Federal de Viçosa, “o fato dos atletas não conseguirem manter a mesma intensidade no calor faz com que o jogo tenha menos contato físico, tornando as partidas mais lentas”.
Durante o intervalo de 15 minutos que ocorre em todas as disputas pela taça do Catar, os jogadores costumam trocar de uniforme, entrar debaixo do chuveiro e colocar toalhas úmidas pelo corpo para diminuir a temperatura, além de ingerir bastante água, destaca a educadora física. Existe ainda a parada técnica, pausa para reidratação quando a temperatura ambiente é igual ou superior a 32º C no estádio. Outra estratégia encontrada pelo país sede do torneio esportivo para amenizar os impactos do calor foi o desenvolvimento de tecnologia capaz de refrigerar os estádios situados em pleno deserto.
Segundo cientistas, o calor no Oriente Médio tem se intensificado em decorrência das mudanças climáticas. O relatório apresentado na COP27, em novembro, pelo Instituto Max Planck de Química sob coordenação do Centro de Pesquisa do Clima e Atmosfera do Instituto Chipre apontou que a temperatura no Mediterrâneo e Oriente Médio está subindo quase duas vezes mais rápido que a média global, podendo tornar a região inabitável.
* Texto revisado por estudante de Educação Física da Universidade Estadual Paulista.
