Segundo a SSP, 9 de 10 sequestros em São Paulo “são golpes do Tinder”

BERNARDO CORVINO

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) afirmou à BBC News Brasil que “mais de 90% dos sequestros registrados em São Paulo são feitos a partir de relacionamentos formados a partir de perfis falsos criados em aplicativos como o Tinder”.

A Divisão Antissequestro do Dope, unidade da Polícia Civil paulista especializada em sequestros, conseguiu identificar 94 ocorrências desse tipo, prendeu 251 suspeitos e apreendeu 9 adolescentes envolvidos.

Segundo a divisão, as vítimas são estudadas pelos criminosos. “Observam usuários que ostentam poder econômico nas redes sociais e marcam um encontro na casa da ‘isca’, abordando as vítimas geralmente em ruas desertas”, informou por meio de nota.

No meio do mês de novembro, um médico do Hospital das Clínicas foi sequestrado e mantido em cárcere por cerca de 14 horas após marcar um encontro por meio de um aplicativo de relacionamento em Pirituba, na zona norte de São Paulo. Ele só foi liberado após os bandidos receberem R$ 75 mil por meio de compras, empréstimos e transferências.

Policiais e especialistas contam quem são as principais vítimas

Sobre o perfil das vítimas, um tenente da zona norte de São Paulo, que preferiu não ser identificado, disse: “São pessoas acima de 40 anos, solteiras, geralmente comerciantes ou possuem pequenas empresas. São pessoas com alguma posse. A maior parte atrai a vítima pelo Tinder, com mensagens sedutoras e um pedido de encontro o mais rápido possível”.

Falando sobre o modo como os bandidos agem, o tenente afirma que “os encontros geralmente são marcados em bairros mais afastados entre o fim da tarde e início da noite”.

Ele disse também que a maneira de agir de cada quadrilha varia de acordo com o perfil de cada vítima e que ela geralmente não está atrás de um romance, mas apenas de um encontro rápido, sem compromisso.

Além disso, o tenente acha que existem muitos outros casos que a polícia não está ciente, pois muitas das vítimas têm vergonha de ter caído em um desses golpes e é comum que digam que estavam andando na rua quando foram roubadas e, na sequência, sequestradas. A maioria dos casos que chegam até eles são de pessoas resgatadas de algum cativeiro.

Sinais de alerta

Especialista em segurança digital da Safernet, Guilherme Alves afirmou para a mesma reportagem da BBC que “excluir o perfil da plataforma após o primeiro encontro pode sinalizar que a pessoa queira esconder informações. Outro ponto são pessoas que querem marcar encontros muito rápidos e saírem da plataforma para conversar no WhatsApp. Encontros em locais privados também devem ser evitados”.

Ele recomenda que o ideal é sempre guardar as conversas e o perfil e marcar encontros sempre em locais públicos de grande movimentação de pessoas. Ele ressalta ainda que o golpe pode ocorrer mesmo após os primeiros encontros. “Em outro caso, a vítima teve dois encontros com o criminoso, mas só no terceiro que ele roubou a moça e sumiu”.

Caso de sucesso

A jornalista Fernanda Castro, 50 anos, conheceu seu atual parceiro, também jornalista, de 47 anos, em um grupo de discussão de jornalistas no Facebook.

Ela conta que o casal levou um ano até seu primeiro encontro, visto que Fernanda mora em Belo Horizonte e ele em São Paulo. Hoje, eles estão em um relacionamento há mais de um ano.

Apesar de este seu relacionamento ter sido um caso de sucesso, ela já passou por alguns perrengues enquanto procurava por alguém online. “Tive algumas experiências bem ruins, um cara foi bem tóxico comigo e inclusive me agrediu fisicamente”.

A jornalista finalizou com dicas para quem está procurando um namoro pela internet. “Encontros pelas redes podem ser muito bacanas, mas existe muita furada também. Antes de conhecer a pessoa pessoalmente é bom ter um mínimo de informação sobre ela, o que é bem fácil pesquisando na internet. É bom ter certeza que não é uma pessoa fake, saber minimamente se vocês têm gostos parecidos. No primeiro encontro presencial é bom avisar uma amiga, deixar o telefone do cara e as redes sociais. São cuidados que te protegem, podem evitar que algum golpe possa acontecer e você tem a quem recorrer se viver uma situação de agressão”.

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