ANA BEATRIZ ZAMAI

Em um jogo difícil de empate sem gols no tempo regulamentar contra a Croácia no dia 9 de dezembro, a Seleção Brasileira se despediu da Copa do Mundo no Qatar. O Brasil fez um gol com Neymar aos 106 minutos da prorrogação, mas tomou o empate aos 117, levando aos pênaltis, onde foi derrotado por 4 a 2, com Rodrygo perdendo o primeiro pênalti e Marquinhos errando o quarto. 

O COMEÇO

Além de ter sido o fim da Seleção na Copa, também foi o fim do ciclo de Tite como técnico da Seleção Brasileira. Adenor Leonardo Bachi, o Tite, como é conhecido, de 61 anos, estreou como técnico da amarelinha no dia 1º de setembro de 2016, com uma vitória de 3 a 0 sobre o Equador. Em toda a grandiosa história da Seleção, nunca antes um técnico ficou tanto tempo consecutivo no comando da equipe. O gaúcho passou os técnicos Zagallo e Flávio Costa em período ininterrupto no cargo, tendo completado 2.275 dias na estreia no Qatar, desde seu primeiro jogo.

Tite era uma escolha quase unânime para assumir a Seleção após a desastrosa eliminação da Copa de 2014, mas a CBF, naquele momento presidida por José Maria Marin, optou pela volta de Dunga. Dois anos depois, com o Brasil em sexto lugar nas Eliminatórias, Tite foi chamado. 

Tite tem bons números na Seleção Brasileira, mas má campanha no geral – Foto: Getty Images

Dos 81 jogos disputados por Tite desde que aceitou comandar a Seleção, em 2016, entre amistosos, partidas das Eliminatórias para a Copa do Mundo, Mundial de 2018 e 2022 e Copa América, essa foi apenas a terceira derrota em partidas oficiais, mas, como nas outras duas, foi uma derrota que gerou uma eliminação.

AS DERROTAS

A primeira derrota foi nas quartas de final da Copa do Mundo de 2018, diante da Bélgica. A segunda foi na final da Copa América 2020, disputada dia 10 de julho de 2021, quando o Brasil perdeu por 1 a 0 para a Argentina de Lionel Messi no Maracanã e presenciou a festa argentina no maior estádio brasileiro. A terceira e última foi contra a seleção de Camarões, dia 2 de dezembro, pela terceira rodada da fase de grupos da Copa do Mundo de 2022. Essa foi a única derrota sem “dores”, já que a Seleção Brasileira já estava classificada, tanto que jogou com o time reserva.

Além dessas três partidas oficiais, Tite também perdeu outras três, mas amistosos: contra a Argentina, dia 09 de junho de 2017, contra o Peru, dia 11 de setembro de 2019, e novamente contra a Argentina dia 16 de novembro de 2019. 

O jogo contra a Croácia na Copa do Mundo 2022 contou, oficialmente, como empate, pois o Brasil só foi eliminado nos pênaltis, e não no tempo regulamentar, mas certamente todo brasileiro vai lembrar desse momento como uma dolorosa derrota, assim como todo croata irá lembrar como uma grande vitória. 

APROVEITAMENTO

Quando se trata de títulos, a Seleção de Tite conquistou apenas um: a Copa América de 2019, contra a Seleção Peruana. 

Dos já mencionados 81 jogos, 61 resultaram em vitórias, 15 em empates e 6 derrotas, gerando um aproveitamento de 80%. Em toda a Era Tite, o Brasil marcou 174 gols, sofreu apenas 30, gerando um saldo de gols de 144. Sofreu gols em 25 jogos e manteve as redes intactas em 52. 

ANALISANDO JOGADORES

Seu maior artilheiro foi Neymar, com 31 gols, seguido de Richarlison, com 20, e Gabriel Jesus, com 19, que não pode aumentar esse número devido a uma lesão ainda na fase de grupos que o cortou do resto da Copa. 

Coutinho, com 17, foi um dos principais jogadores da Seleção Brasileira na Era Tite, tendo muita regularidade na Copa do Mundo de 2018. Porém, seu desempenho mudou depois da mudança de clubes (passagens entre Barcelona, Bayern de Munique e Aston Villa) e de lesões mais graves, sendo este inclusive o motivo de não estar na Copa do Mundo de 2022.

Roberto Firmino, com 13, também foi um dos principais jogadores da Era Tite, principalmente na Copa América de 2019, mas se aproximou do banco de reservas nas duas temporadas anteriores à Copa do Qatar, além de algumas lesões. 

Paulinho e Lucas Paquetá, ambos com 8 gols; Casemiro, com 6; Raphinha e Marquinhos, com 5; Miranda, Thiago Silva, Willian, Everton, Everton Ribeiro e Gabigol, com 3; Renato Augusto, Diego Souza, Marcelo, Alex Sandro, Antony, Vinicius Junior, com 2; Daniel Alves, Artur, Filipe Luís, Danilo, Taison, David Neres, Dudu, Éder Militão, Rodrygo, Bruno Guimarães e Pedro, com 1, completam o ranking. 

No total, foram convocados 122 jogadores, com 85 entrando em campo.

Um dos jogadores que merece a atenção é Bremer, zagueiro da Juventus. Bremer chegou fora dos padrões de Tite, em que jogavam apenas Thiago Silva, Marquinhos e Eder Militão. Também está fora de padrão por ter mais imposição física do que a dupla de zaga titular, Marquinhos e Thiago Silva. Segundo o GE, o defensor baiano revelado pelo Atlético-MG impressionou pela firmeza, pela maneira determinada que encarou a única chance na carreira. 

NÚMEROS 

Falando em números, os jogadores mais convocados foram Casemiro e Marquinhos, 29 vezes. Marquinhos foi o que mais entrou em campo, 64 vezes. O jogador mais novo da seleção de Tite a chegar no Qatar foi Gabriel Martinelli, que completou 21 anos em junho. Já o mais velho foi Daniel Alves, com 39 anos. 

Em advertências, a Seleção de Tite possui um número consideravelmente médio de cartões, se levarmos em conta que quase 30 jogos foram amistosos: uma média de 1,5 cartão por partida, tendo Neymar como recordista dos cartões amarelos (17 vezes). Apenas três cartões foram vermelhos: dois de Gabriel Jesus, na final da Copa América de 2019, contra o Peru, por ter levado o segundo amarelo da partida. O segundo foi contra o Chile, após saltar e atingir de maneira não intencional o rosto do adversário. 

CAPITÃES

Hoje, Thiago Silva e Daniel Alves, os dois mais velhos da equipe, são os jogadores que Tite mais optou por dar a braçadeira de capitão. Casemiro e Marquinhos também exercem liderança com ou sem a faixa. Daniel Alves foi quem mais liderou os jogadores (19 vezes). 

Thiago Silva, um dos capitães mais frequentes de Tite – Foto: Carl de Souza

A Era Tite se encerra com números muito bons, mas que na verdade não refletem a má campanha realizada por Adenor: apenas um título, da Copa América 2019, e as poucas derrotas foram as que geraram as dolorosas eliminações. 

O sucessor de Tite ainda não foi anunciado pela CBF, sequer decidido, mas já tem opiniões divididas: o português Jorge Jesus, ex-treinador do Flamengo que conquistou vários títulos em pouco tempo no time; o também português Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, que conquistou diversos títulos em, por enquanto, dois anos de clube. A “velha guarda” do futebol brasileiro, como o time que conquistou o pentacampeonato, acreditam que o treinador deve ser brasileiro, e citam nomes como Fernando Diniz, treinador do Fluminense e Rogério Ceni, treinador do São Paulo. 

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