VINÍCIOS COTRIM
O movimento hip-hop teve sua origem na periferia da cidade de Nova Iorque, na costa leste do Estados Unidos, e reunia, reunindo até hoje, as pessoas que são socialmente marginalizadas, como afro-americanas, caribenhas e latino-americanas que viviam em comunidades próprias.
Já no Brasil, o hip-hop surgiu em meados da década de 1980, quando grupos de jovens se juntavam no centro da cidade de São Paulo para treinar passos de dança e rimar ao som de batidas nunca vistas antes nas ruas tupiniquins. Desde então, acontece o surgimento de diversos grupos que possuíam estas características em sua forma de expressar a arte, como Racionais MC’s, nas rimas, e Os Cobras, no break, além de surgirem diversos grafiteiros.
O movimento cresceu e, nos dias atuais, se tornou uma cultura central para o desenvolvimento como ser humano da população nacional e, principalmente, periférica. Gustavo, jovem que tenta construir sua carreira no rap e tem como nome artístico Rosário, diz que o rap influenciou grande parte do seu desenvolvimento como ser humano. “Desde quando eu era criança, quando comecei a batalhar (rimando), desde que comecei a ouvir as letras, que na época eram o Racionais, Sabotage…”.
Após o sucesso nacional do rap causado por nomes como o próprio Racionais, grupo composto por quatro rappers, Sabotage, Facção Central, Negra Li e Dina Di, muitos nomes começaram a surgir, formando uma ‘nova geração’ do rap, trazendo diferentes visões de acordo com a realidade que o país vivia. “A gente absorve a letra de uma forma que a gente acaba levando pra vida inteira, que muitas vezes estão passando uma visão além do que a gente pode compreender quando criança”, completou Gustavo.

Em Bauru acontece o maior festival gratuito de hip-hop da América Latina. E neste ano, em 2022, diversos nomes do rap nacional se apresentaram no evento, como Marechal, Rashid e Haikaiss, três nomes com estéticas diferentes, mas que agregam no movimento, utilizando diversas vivências para externar ao público ideias e experiências. Segundo a professora Verônica Sales Pereira, doutora em sociologia pela USP, este tipo de evento é importante, pois permite a promoção do lazer e permite o contato dos artistas com o público, gerando uma pluralidade nas visões de temas, sejam culturais, sociais e, principalmente, políticos.
Como o hip-hop é fruto das minorias sociais que viviam em Nova Iorque, fica claro que o movimento tem como meta promover um desenvolvimento na população marginalizada. Como consequência deste objetivo, as periferias, principalmente de cidades maiores, acabaram se tornando mais militantes politicamente. “Atualmente ela é uma forma de colocar em xeque, entre tantas questões, as formas de segregação sócio-espacial na cidade, calcadas na divisão centro/periferia, e as várias formas de preconceito, discriminação, violência, injustiças, associadas a ela”, comentou Verônica.
Além da militância, a consciência de classe é algo importantíssimo para a população socialmente excluída e, com as letras de raps e grafites desenhados pelas cidades, pode surgir essa conscientização na parte da sociedade que tem a mente aberta com as expressões artísticas.
De acordo com a Professora Verônica, “ele (o movimento) é fundamental pois articula lazer e cultura às outras dimensões da vida cotidiana, e que são experimentadas no trabalho, no consumo, na família, na escola, na cidade, e que revelam as várias formas de solidariedade, mas também de conflito, as diferenças mas também as desigualdades socioeconômicas que se manifestam nas posições de classe social e que se relacionam também à cor/raça, o gênero, a idade, entre outras formas de identidade”.
