Supervisora operacional do Cinépolis de Bauru afirma que 2022 não foi um bom ano para o cinema


RAFAELLY FERREIRA

O acesso ao cinema no Brasil ainda é algo restrito para boa parte da população brasileira. De acordo com pesquisas do IBGE, 39,9% dos brasileiros moram em cidades que não possuem salas de cinema. A falta de acesso desse equipamento cultural está relacionada diretamente à situação financeira dos cidadãos brasileiros.

“Quando vou ao cinema tenho que gastar em torno de R$50,00 de gasolina, pois na cidade que moro não tem salas de cinema, o que me faz deslocar para a cidade mais próxima que tenha um cinema, com 40 km de distância. Além disso, os preços das bilheterias são altos, na última vez que fui eu com meu namorado ao cinema, gastamos R$32,00. Estes gastos fazem com que não seja tão acessível para mim ir ao cinema frequentemente ”, explica a jovem de Novo Horizonte- SP, Raíssa Valéo.

O Brasil possui 5568 municípios e apenas 3165 salas de cinema em operação no Brasil, sendo que ⅓ destas salas estão presentes na capital de São Paulo. O deslocamento para outra cidade para assistir um filme faz com que muitos brasileiros não tenham interesse em frequentar uma sala de cinema. Além disso, o custo não é baixo e muitos brasileiros não têm condições de ir ao cinema. 

Em uma pesquisa realizada com 35 pessoas da faixa etária de 18 a 40 anos, apenas 26,5% responderam que assistiram a um filme em uma sala de cinema no último mês. E 94,1% afirmam que se os preços das bilheterias fossem mais baratos, eles iriam aos cinemas com maior frequência.

“O cuidado que temos com o público, fazendo com que o cinema seja um ambiente familiar e que as pessoas tenham seu momento de lazer é a maior aposta que fazemos. Além disso, temos a promoção “Todo Mundo Paga Meia” que chama muito a atenção de nosso público e incentiva as pessoas a virem ao cinema com mais frequência”, comenta o gerente do Cine Araújo de Bauru, Carlos Alberto.

A maior aposta do Cine Araújo, no Bauru Shopping, e de diversos cinemas são os filmes para a família, como um grande sucesso que foi Minions 2, lançado em junho deste ano. Mas algo que vem decepcionando é que alguns cinemas não cumprem o prometido. O público chega com a expectativa de pagar meia entrada, mas descobre que na verdade nem “Todo Mundo Paga Meia.”

“Há alguns dias fui ao cinema do shopping de São José do Rio Preto com minha amiga e sua família, quando chegamos ao local, descobrimos que nem todos poderiam comprar a meia entrada, apenas eu e minha amiga compramos a meia entrada, pois somos estudantes. Os pais da minha amiga tiveram que pagar o bilhete completo, resultando um preço acima do esperado”, afirma a estudante de 18 anos, Beatriz Hilário.
Durante a pandemia, estúdios de gravação tomaram os devidos cuidados para se prevenir contra a covid-19. Com as restrições causadas pela doença, muitos filmes adiaram sua data de lançamento, como “Pantera Negra: Wakanda Forever”, que estava previsto para julho de 2022, mas foi lançado apenas em novembro. 

Porém, outros filmes só irão ser lançados em 2023, como Indiana Jones e The Marvels. Os adiamentos podem gerar um grande problema para os cinemas, como a falta de catálogo. Em 2022, os cinemas retornaram sem restrições do covid19, o que gerou uma grande expectativa, tanto para o público, como também para as gerências dos cinemas brasileiros.

“Estou há cinco anos trabalhando no Cinépolis de Bauru e 2022 não foi um bom ano para o cinema, pois antes da pandemia tínhamos um público muito maior, chegávamos a atender 6 mil pessoas por dia, principalmente com filmes da Marvel, que atingiam o limite de suas salas. Neste ano, poucos filmes conseguiram lotar suas salas, mas acredito que seja ainda  por conta da pandemia, onde muitas pessoas ainda têm medo de frequentar o cinema, por ser um local fechado”, diz a supervisora operacional do Cinépolis de Bauru, Amanda Martins.

O Cine Araújo e o Cinépolis, ambos de Bauru, possuem respectivamente 5 e 6 salas, e na segunda semana de dezembro exibiam sete filmes de catálogo, sendo três filmes de ação, um com o tema natalino, a reprise da Saga Crepúsculo, entre outros.

“Fomos ao cinema no dia 4 de dezembro e não encontramos muita variedade de filmes, para a família havia 3 filmes de ação, que é um gênero que não nos atrai. Então tivemos que escolher um filme de suspense, pois consideramos ser a melhor opção, mas que não era exatamente o que nós buscávamos naquele dia”, relata Beatriz Hilário.

A ausência de catálogo que possa interessar um certo tipo de público faz com que muitos prefiram o serviço das plataformas de streaming. Das 35 pessoas que responderam a pesquisa, 54,3% escolheram a ação como gênero preferido. Mas 45,7% responderam que preferem outros gêneros, como terror e animações.

O gerente do Cine Araújo, Carlos Alberto, espera que 2023 seja melhor que 2022. “As produções que foram adiadas neste ano vão ser um sucesso no próximo ano”, acredita. Ele também explica que, investindo cada vez mais no ambiente, as pessoas poderão se interessar mais. 

Mas a supervisora operacional do Cinépolis, Amanda Martins, não tem o mesmo pensamento. “Infelizmente não estou criando muitas expectativas para o ano de 2023, pois acredito que o streaming é um forte competidor para o cinema, mas gostaria que voltássemos a lotar nossas salas como nos anos anteriores à pandemia”, explica. 

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