LAURA SANTOS
A última edição da São Paulo Fashion Week mostrou uma positiva diversidade de corpos nas passarelas do evento. Contudo, esse ainda é um cenário onde corpos de diferentes tamanhos e formas não ganham tanta visibilidade e respeito no mundo da moda.
“Penso que a moda em geral têm trazido cada vez mais variedade de biótipos para as passarelas, é um movimento crescente e natural para a onda do momento, que é falar de inclusão”, diz Drika Valério, designer de moda inclusiva.
A indústria da moda cada vez mais se mostra por dentro da tendência body positive, porém a inclusão de corpos diversos nos desfiles pede por um aprofundamento e uma normalização e não apenas ser mais uma tendência.
Na visão da professora de antropologia da Unesp Bauru Larissa Pelucio, “nos deixamos seduzir por uma ideia neoliberal e perigosa que o indivíduo no Instagram vai fazer a revolução e transformar padrões apenas postando a hashtag body positive.”
Movimentos de inclusão vem causando grande impacto e visibilidade, principalmente nas mídias sociais, fazendo com que grandes marcas tragam um pouco dessa variedade para seus desfiles. “Saímos dos anos 2000 de uma discussão sobre visibilidade, para chegar agora na segunda década deste milênio com outra discussão que é de representatividade, não é mais só ser visível ou uma visibilidade positiva, são pessoas que se constituíram a partir de outras linhas discursivas que têm a vivência corpórea, subjetiva mas também teórica dessas questões sobre diferença de corpo raça gênero e sexualidade que tornaram-se claramente políticas”, aponta a professora.
O mercado atual de moda se mostra cada vez mais por dentro de movimentos sobre diversidade de corpos, mas ainda assim o consumidor final não se sente representado e tem dificuldade em achar tamanhos e formas que caiam bem.
Luana Palharini é auxiliar de marketing do ateliê “Dona Eulisses”, em Bauru, que tem foco em criação de roupas plus size. Ela contou a história de sua mãe, criadora da loja. “Ela decidiu começar a costurar, pois não achava roupas para o tamanho dela que hoje já é difícil achar, e antigamente por volta da década de 70 era ainda mais, então ela decidiu começar a costurar”.
O exemplo de Luana é algo que vem sendo cada vez mais comum no mundo da moda alternativa. Pequenas marcas são criadas voltadas para atender públicos específicos fazendo com que a grande indústria fashion tente colocar a diversidade de corpos como uma nova tendência, e assim retomar o público perdido para as marcas pequenas.
Para a professora Larissa Pelucio, “as marcas precisam pensar na diversidade humana, isso não foi pensado até muito recentemente, a obsessão por um manequim 38 quando a maior parte das brasileiras precisa fazer um grande sacrifício para entrar nesse padrão”.
Mesmo com a crescente alta da inclusão de novos tamanhos e formas, o mercado da moda continua tendo como principal característica os corpos magros e com padrões estéticos próprios da moda tradicional. “É só a gente fazer uma breve pesquisa mercadológica para saber que essas empresas vão muito bem. Elas podem até arriscar um plus size, mas elas vão continuar fazendo as suas propagandas em cima de corpos que são brancos, são jovens, são mulheres e homens magros, reproduzindo aquilo que se convencionou como sendo belo e sendo vendável”, explica Pelucio.
O cenário de inclusão parece cada vez mais pessimista sobre a visão do mercado atual. “Funciona dessa forma e elas não vêem porque mudar. Cada marca tem a liberdade de decidir se vai ou não ser mais inclusiva, não é uma realidade e está bem longe de acontecer, então é mais fácil trabalhar no que já funciona”, aponta a design Drika.
O mundo da moda é um espelho da sociedade e o movimento de corpos diversos não se mostra apenas como uma característica desse meio fashion, e sim uma luta sobre respeito, diversidade e visibilidade sobre todos os tipos de corpos. As tendências e estilos necessitam de novas formas e visões, e são movimentos como esse que trazem uma nova perspectiva para o consumidor, mesmo o mercado ainda sendo tão tradicional.
“Essa inclusão não muda a sociedade ela pode criar pontos de tensão, pautar discussões, trazer um certo friccionar de ideia, dar uma visibilidade e provocar, mas não é numa passarela que a gente vai mudar, mudamos politicamente votando para que tenhamos governos que realmente se preocupe com a inclusão, o respeito pela diferença, em políticas públicas”, explica a professora Larissa Pelucio.

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Amo moda,Costuro desde os 9 anos de idade. Por ter um corpo plus(desde sempre kkkkkk),e ter um gosto diferente pra roupas, aprendi rápido. Hoje tenho uma fábrica de sonhos! Você imagina o modelo e eu faço pra você sob medida.
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